Sarará Crioulo

É Zumbi, é Milton, Nascimento e Gonçalves, Ronaldos, Garrincha Pelé e Cocada. Pitanga pai e filha. Robson Caetano e João do Pulo. Castro Alves e Machado de Assis. Elza rouca, canto que dói. É Bahia é Brasil e África, é clássica mas é atabaque, é negra é música é alma. São os irmãos, Beto, André, Jana, Val, a pequena Indra. Isso sem esquecer os parceiros Fábio Davidson, Jamile, Ciro e Dilma, Natallia do Rio, Celão, Cibelle, Marcelo. Tem ainda Chiquinho, Babi, Karen e a Vivi, os brancos mais negrões que conheço. É a senzala, é a casa grande, que um dia, vão ser uma só. Basta querer, basta ver.Ali em cima tem Muhamed Ali, que sonhou o mesmo sonho do Malcon. Tem Magic, tem Michel, o negro e o branco, tem o rei, ou melhor os reis, James e BB King. Que mandaram a mensagem para o Rei Tim, que fez o Tony Tornado dançar. Nossa ia me esquecendo do bem que a múscia do Jorge Ben me faz. Toca Zé Pretinho!

Tem tantos, que eu me sinto mal, eu tenho medo de esquecer alguém. O Nelson e Cartola não podem ficar de fora. Nem a dona Zica. Tem Rosângela, a mestra, que hoje eu me peguei pensando em você. Pensei em você e no Jair. Eu universitário. Em dois anos de casa acadêmica tive apenas dois negros me ensinando. Vergonha que tenho disso gente. Cadê a negrada Rô? O pior que nos dois sabemos onde eles estão... Eu que estudo em uma sala com cinco guerreiros de ébano. Queria ser um deles também. Pôxa como eu queria ser negrão, com um sorriso lindo, uma pele brilhante que tem um passado. Mas não, me fizeram português, branco e de “cabelo bom"? Eu não acho isso mas tudo bem...

Dizia o Gil que o Haiti é aqui. Mas eu gosto também do outro Gilberto, o Freyre, que definiu lindamente que todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e do negro. Isso me consola, mas não me serve. Valeu Leci Brandão, Jovelina e dona Ivone Lara. Lindo Ilê aiê. Bezzera da Silva, Jackson do Pandeiro, Candeia e Aniceto. Grande Othelo, Raul de Souza, Milles Davis, o improviso no jazz e Pixinguinha. Luiz, Gonzaga e Melodia.

Não se envergonhem. O que a princesa fez, não valeu de nada. Vocês eram livres, vocês são os fortes e os que deram a esta terra esta beleza malemolência e vontade de lutar. Não existe como pagar ou apagar o que nos fizemos no passado, mas eu digo que meus irmãos são negros, índios, amarelos e todo um arco íris de cores. Pena que uma boa parte do mundo não seja como eu. Mas vou fazer minha parte e vou fazer esta história mudar.

Ah tem ainda, Cacique de Ramos, meus guias, meu Pai Joaquim, a Mangueira e Jamelão. Portela e Paulinho da Viola. A Acadêmia do Samba, Salgueiro. Não sem esquecer da Nenê e Vai-Vai, que mantêm viva a cultura que desceu goela, abaixo para mostrar seu valor ela saiu do Fundo de Quintal para vermos os Originais do Samba. Hoje o pandeiro não vai mais embrulhado no jornal. Falta muito, mas vamos continuar que a abolição ainda não chegou.

Negro é lindo. Todo dia é dia de negro. Sandra, fala você o que somente os Seus Olhos Coloridos Viram:

Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir
Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Tá todo mundo baratinado
Também querem enrolar
Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Cê ri da minha pele
Você ri do meu sorriso
A verdade é que você , todo brasileiro
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo

Dica do Português:

È uma musica apenas, mas procura na Internet ou escuta a Bethânia cantando em seu ultimo disco, a excepcional Monólogo de Orfeu de Vinicius de Morais e Tom Jobim.

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