25 fevereiro, 2006

A senhora conseguiu Dona Santa

Dona Santa, igual a senhora temos muitas mães, que choram filhos, mulheres que choram maridos, filhos que ao pai pedem por um retorno que não vai vir.

Mas dona Santa, sua luta não foi em vão. Conseguiu ser ouvida, enxergada. Finalmente depois de trinta e seis anos de caminhadas, de pedidos, finalmente alguém se dispõem a te escutar dona Santa. Vejam só, a senhora conseguiu uma audiência com o Vice presidente, que se comprometeu a dar notícias do seu filho, Marco Antônio Dias Batista, desaparecido em 1970 durante a ditadura militar, quando tinha apenas quinze anos.

Depois de trinta e seis anos, um governo reconhece que matou o seu filho. Agora eles querem entregar a senhora uma ossada, que nem sabiam onde estava. O Marco foi visto pela última vez aos quinze anos, em maio de 1970, quando era militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares. Grupo de esquerda que teve entre seus membros a hoje ministra da Casa Civil, Dilma Roussef.

Durante dez anos a Senhora acalentou a esperança de que o Marco vivia na clandestinidade. Um dia, quando chegou do trabalho para fazer o almoço, comentou que era hora de contratar um advogado para conseguir tirá-lo da clandestinidade. Foi quando o seu filho, Waldomiro, o Mirinho, também militante de esquerda, te contou a verdade. Ele te chamou na sala, sentou a senhora no sofá e falou que, o Marco não existe mais.

Um ano depois, em julho de 1981, a senhora concluia o curso de Serviço Social na Universidade Católica de Goiás, foi teu espírito de mãe que fez a Senhora ter procurado no curso uma tentativa de descobrir o que o seu filho queria quando entrou para a militância de esquerda.

A polícia falava que a Senhora tinha escolhido um curso bem “vermelho”, como se dissessem que a Senhora era a comunista. Decerto era mesmo comunista. Afinal, o Marco era sangue do seu sangue. É dona Santa, a senhora que ao concluir o curso queria mais que achar o Marco. Queria igualdade, queria o fim da fome.

Em 1996, 26 anos após seu desaparecimento, Marco foi reconhecido oficialmente como um dos mortos pelo regime militar. A senhora é uma vitoriosa dona Santa.

Este texto é para todas as “donas Santas” do Brasil. A senhora representa as mães da Praça de Maio, as mães do Chile, da Candelária e de Vigário. É para todo mundo que procura por uma justiça que teima em enxergar. E para senhora dona Santa, é para você Bárbara, Carol, Sônia. É para nós.

*Dona Santa faleceu no dia 15 de Fevereiro em um acidente de carro, quando voltava da audiência com o vice-presidente José Alencar.

Dica do Português:

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2 comentários:

Diana C. disse...

Dona santa...
Não deveria ter morrido no acidente...
Deveria morrer na cama, quietinha,acho...
Triste fim...
Mas acho q depois de tudo, ela ainda morreu feliz, se é que isso é possivel...enfim...
Beijos

Anônimo disse...

Caro Léo, que história cruel.
o que dizer?
sem palavras, simplesmente não tenho o que falar, é uma história tão comum, mas ao mesmo tempo tão peculiar por seu andamento, sim, por que esta senhora ainda teve notícias do acontecido ao seu filho, coisa que a maioria morre com a dúvida.


Gui